Há fins de semana que passam. E há fins de semana que marcam.
O que está prestes a acontecer nos próximos dias entra, com força e sem pedir
licença, na segunda categoria: um daqueles marcos culturais que nos atravessam
a carne e o tempo. Para os fãs do britpop e do heavy metal, a sexta e o sábado
serão uma catarse coletiva, uma celebração do que fomos e, talvez, uma
despedida do que nunca mais será. De um lado, o improvável retorno do Oasis aos
palcos. Do outro, o último ato do Black Sabbath, encerrando um ciclo de mais de
cinco décadas.
A volta dos reis de Manchester
Depois de anos de especulação, brigas públicas e esperanças meio cínicas dos fãs, Oasis faz seu tão aguardado retorno nesta sexta, 4 de julho, no Principality Stadium, em Cardiff, capital do País de Gales. O local não foi escolhido à toa: Cardiff sempre teve um peso simbólico na trajetória da banda, sendo palco de apresentações memoráveis e dono de um público historicamente barulhento e apaixonado. É lá que os irmãos Gallagher voltam a dividir o mesmo palco após mais de 15 anos, num evento que promete ser catártico.
A formação anunciada inclui Liam Gallagher nos vocais, Noel
Gallagher na guitarra e vocais, Paul Arthurs, Gem Archer, Andy Bell e Joey
Waronker, reunindo os nomes mais emblemáticos da fase final da banda. O show,
além de abrir uma nova turnê mundial, será registrado para um documentário
lançado posteriormente.
A expectativa é tamanha que os ingressos se esgotaram em
minutos. Mas não se trata apenas de um show. É a resposta emocional de uma
geração inteira que cresceu entre Walkmans, posters de revista e letras como
“Don’t Look Back in Anger” gravadas na alma. O retorno do Oasis é um retorno às
origens de muitos de nós.
O último riff do Sabbath
E se na sexta voltamos ao início, no sábado somos empurrados,
inevitavelmente, para o fim. O Black Sabbath, pioneiro do heavy metal, faz seu
último show da história neste domingo, 6 de julho, no Villa Park Stadium, em
Birmingham, sua cidade natal. Nada poderia ser mais simbólico.
A formação anunciada inclui Ozzy Osbourne, Tony Iommi, Geezer Butler e Bill Ward, e contará ainda com convidados especiais como Metallica, Slayer, Pantera e Alice In Chains, entre outros nomes que foram moldados ou influenciados pelo legado do Sabbath. O setlist promete ser um passeio pelas trevas sonoras que a banda soube como ninguém transformar em arte, passando por faixas menos óbvias, mas igualmente essenciais.
E para quem não conseguiu garantir ingresso (ou simplesmente
não tem recursos financeiros para tal loucura) a organização preparou uma
transmissão com delay de duas horas do evento oficial em pay-per-view, direto
de Birmingham. Ela será comandada pela Mercury Studios, em parceria com a
Kiswe, custa R$ 93 reais (ingresso + taxas) e estará disponível à partir das
10h30 da manhã de sábado com opção de reprise por até 48 horas.
O clima esperado é de reverência. Não apenas pelo peso
histórico da banda, mas pela consciência de que estamos vendo os últimos passos
dos gigantes. E isso, por si só, já pesa no coração.
A última geração a sentir isso
Eu tenho 27 anos. E enquanto escrevo estas linhas, me dou
conta de que talvez a minha seja a última geração a viver essas coisas de
verdade. A última a comprar CDs. A última a decorar encartes. A última a saber
o que significa ver uma lenda subir no palco sabendo que ela pode nunca mais
voltar.
Esse fim de semana não é só sobre o Oasis voltando ou o Black
Sabbath se despedindo. É sobre sermos atravessados por uma emoção que não cabe
em stories. É sobre a música ser o elo entre o passado que nos formou e o
presente que insistimos em sentir de forma intensa. É sobre entender que a
cultura que nos construiu está se transformando diante dos nossos olhos, e que
presenciar esse momento é um privilégio e um luto ao mesmo tempo.
Talvez nenhuma geração após a nossa vá entender o peso disso.
E tudo bem. Mas neste fim de semana, a gente sente. E sente como nunca. Porque
ainda estamos aqui. Porque ainda temos esses ídolos. Porque, no fundo, a gente
sempre vai acreditar que o rock salva. Mesmo que só por algumas horas, no meio
da multidão, debaixo das luzes do palco.
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